quarta-feira, 12 de abril de 2017

Orientalist Dance - páginas 14, 15 e 16

Olá!

Que bom receber sua visita aqui novamente! Estou muito contente com a repercussão que a tradução do livro está alcançando! Fico feliz em finalmente poder compartilhar este material riquíssimo que está em minhas mãos.

Como autêntica geminiana que sou (super curiosa, rs), desde o início do meu aprendizado eu sempre busquei aprender mais do que apenas a técnica (que claro me encanta grandemente), mas era muito difícil encontrar informações confiáveis e pesquisas sérias sobre a História da Dança do Ventre. Então este livro vale ouro pra mim!




Para quem está chegando hoje no blog, aqui está a

A partir de amanhã já começaremos a tradução dos relatos e também algumas pinturas! Lindas, lindas, lindas!

Se você passou por aqui e gostou do nosso material, deixe seu recado, sua dúvida, sua sugestão! E curta nossa página no facebook para não perder nenhum trechinho deste livro maravilhoso!

É só clicar aqui ⇒  Ká Valentin - Escola de Dança 

Espero você amanhã! 😘

(página 14)

Música
A música européia deveria parecer igualmente horrível para os músicos orientais na época - mas não hoje. No século passado, a mídia de massa conseguiu impor a música feita na escala temperada para acabar com todos os outros sistemas musicais.
Poderia-se pensar que os pintores são deixados de fora do debate europeu-oriental sobre a música, mas eles se traem ao retratar instrumentos musicais. Uma vez que uma pintura ou gravura é uma imagem estática, para demonstrar movimentos corporais harmoniosos, sugerem a presença do acompanhamento musical mostrando músicos. Sabendo que a atenção do espectador será focada na dança, o pintor presta pouca atenção em reproduzir fielmente os instrumentos, portanto sua forma ou a maneira como são segurados pelo músico raramente são corretas.

Trajes
As roupas e tecidos orientais já eram familiares para os europeus há séculos. Se não através das performances turcas (?), na ópera ou nas fantasias exóticas dos bailes de máscara burgueses. Além disso, muitos dos melhores tecidos que vestiam as mulheres dos haréns eram importados da Europa. O pintor poderia facilmente encontrar trajes orientais, emprestados dos guarda-roupas ou nas revistas de moda, para vestir suas personagens. O problema mora em outro lugar: nas diferentes posturas do corpo e seus trajes. Para os europeus, a semi-nudez é sensual e provocativa, enquanto que para um oriental é claramente imodesta (?) e insípida. O pintor descobre as mãos, os seios e tudo mais que puder da dançarina, provavelmente sabendo bem que está traindo a realidade. Como ele estava ali para vender suas pinturas para ricos clientes turcos ou egípcios, ele vestiria nela muitos tecidos brilhantes e véus esvoaçantes e a carregado de muitas joias baratas.

Corpo e sexualidade
Os pintores queriam sugerir uma sexualidade desenfreada supostamente contida na dança do ventre, ao contrário das danças que poderiam ser vistas na europa na época, como por exemplo, no ballet nas grandes cidades, nas danças de casal nos salões, e as danças tradicionais nas aldeias. Se na época era difícil , hoje é quase impossível compreender que a maneira que vemos o corpo é uma construção da nossa própria sociedade. Por exemplo, para nós os seios de uma mulher estão carregados de sexualidade, enquanto que os orientais na época eram indiferentes:


(página 15)
... as mulheres não usavam sutiãs e amamentavam seus bebês abertamente. Por outro lado, hoje em dia os cabelos de uma mulher são constantemente expostos e podem inclusive passar desapercebidos, enquanto que para um muçulmano, é uma das visões mais chocantes. O tornozelo ou o pescoço de uma mulher chama sua atenção, assim como uma cintura fina ou dedos longos seduzem um cristão. Peles brancas como a neve excitavam os pashas, por este motivo priorizam as garotas georgianas para seus haréns, enquanto desprezavam a pele rosada que arrebatava um homem inglês, e desprezavam a pele bronzeada tão em moda hoje porque era associada com trabalho nos campos.

Diferenças de gosto tornam-se mais óbvias quando consideramos outros fatores relacionados com a beleza percebida numa mulher. Um deles é status: pensava-se somente em garotas, não em mulheres casadas, quando lidavam com questões de beleza ou de dança. Na época, o casamento era uma mudança radical, envolvendo a retirada da vida social e abandonar a si mesma para concentrar-se nos repetidos partos, na criação de filhos e manutenção da casa. Outro fator é a gordura: as modelos escolhidas pelos pintores como dançarinas belas seriam rejeitadas pelos Orientais por serem magras. Ser bem alimentado era algo que todo mundo desejava e que apenas os ricos poderiam pagar, então quanto mais opulenta uma mulher era, mais bonita ela era considerada. A celebrada "caminhada da galinha" (?) é desconhecida hoje em dia, mas antigamente inflamava a imaginação dos poetas de então.
Se os pintores seguissem a estética do oriente médio, eles não apenas fariam suas dançarinas mais gordas mas também mais baixas, algo que os europeus certamente não gostariam. Ele deveria pintar alguns pontos de beleza aqui e lá, assim como quadris fartos e lábios carnudos (?), ambos sinais de sexualidade exuberante.
Se os viajantes europeus tivessem visitado a zona rural do seu próprio país, estariam melhor preparados para compreender os costumes do oriente. A vida rural no século XIX na Europa ainda mantinha muitos das características ancestrais que desapareceriam no século XX. Países orientais simplesmente preservaram os costumes antigos por muito mais tempo.

Reescrevendo a História
Como em toda abordagem histórica, aqui também o maior problema é a confiabilidade das fontes. Para escrever (uma nova!) história da dança orientalista, ou mesmo da dança nos países mediterrâneos, nós deveremos nos dirigir às testemunhas. Como os relatos dos autores locais é escasso, é inevitavelmente necessário depender dos estrangeiros, a maioria viajantes. As fontes de pesquisa são a literatura e a pintura. Sua credibilidade varia enormemente. Há aqueles que, apesar de nunca terem visitado um local, conseguiram reunir informações, então suas descrições são particularmente úteis. Por outro lado, podemos encontrar aqueles que , apesar de estarem no local, fornecem informação vaga ou incorreta.

(Página 16)

Uma avaliação cuidadosa de cada fonte é indispensável, principalmente examinando todo o trabalho do autor ou pintor, afim de verificar se ele coloca atenção nos detalhes e se os dados fornecidos são confirmados por outras fontes.


Os textos

A respeito da organização dos textos, a ordem cronológica foi escolhida para evitar confusão. A descrição nunca é tão detalhada a ponto de permitir a reconstrução da dança, mas fornece uma riqueza de outros fatos, provavelmente mais importante do que o movimento dos dançarinos. Quando a data é incerta, é seguida de um ponto de interrogação. Nomes de países ou regiões, bem como as fronteiras que os separam têm mudado muitas vezes - optou-se pela denominação mais familiar para o leitor de hoje. O texto foi copiado fielmente, e inclusive erros tipográficos foram mantidos. A maioria dos livros de viajantes é muito rara, então encontra-los e lê-los para encontrar passagens sobre dança demanda tempo. Copiar apresenta um obstáculo técnico pois eles não podem ser abertos além de um determinado ângulo, (?). Algumas vezes o autor nem sequer menciona onde a cena aconteceu (os pintores nunca o fazem) , ou baseia-se na sua interpretação em informações fornecidas de improviso pelo seu guia. (?)


The pictures

As pinturas foram organizadas pelo nome do artista. É óbvio que não há conexão entre textos e pinturas, a única razão pela qual estão colocados juntos é para criar uma variedade e tornar a leitura mais agradável. Foi dada prioridade para pinturas (quanto mais impressionantes), as gravuras (que são mais confiáveis) foram deixadas para volumes seguintes. Não houve intervenção, mas não pudemos evitar repetir alterações feitas em nossas fontes: designers de álbuns tem o péssimo hábito de cortar as imagens, enquanto as impressoras falham em reproduzir as cores fielmente.

Um livro de dança nada mais é do que um complemento ao ato de dançar. É tão mais importante viver a dança executando-a, e se você não pode, nós conseguimos uma parte do prazer ao assistir outros dançando. Apenas quando nós não podemos nem assistir, e quando é aconselhável ler sobre dança, para enriquecer nosso conhecimento e cultivar nossa admiração por ela. Desta forma nos tornaremos melhores dançarinos e melhores expectadores.

A. Raftis




Nota da tradutora: o sinal de (?) alerta para um trecho que não ficou claro para mim, ou no qual tenho dúvidas sobre a tradução correta.

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